Choques de cabeças em partidas do Náutico e Sport preocupa especialista

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O fim de semana foi marcado pelas vitórias das equipes do Náutico e Sport pelo Campeonato Pernambucano, mas também por episódios tensos, envolvendo choques entre cabeças de jogadores. O fisioterapeuta esportivo Felipe Moraes analisou os fatos que aconteceram há menos de 48 horas e listou possíveis riscos para os envolvidos.


O primeiro ocorrido foi no sábado, logo no primeiro minuto do jogo entre Náutico e Vitória, pela quarta rodada do estadual. No estádio dos Aflitos, os atletas Giovani e Palominha da equipe visitante protagonizaram um choque, e caíram desacordados no gramado. Foram socorridos por médicos dos dois clubes, receberam os primeiros cuidados, e voltaram ao confronto logo em seguida.

Instantes depois, Palominha caiu e foi retirado de ambulância do estádio. No segundo tempo, foi Giovani quem voltou a se sentir mal. Vomitando, ele também deixou a partida e foi conduzido a uma ambulância. Uma fratura no rosto de Palominha foi confirmada posteriormente. Ambos agora passam bem.

Um dia depois, no domingo, mais sustos aconteceram. Também pelo Pernambucano, estavam em campo os times do Sport e Central. E nos acréscimos do primeiro tempo, foi a vez do goleiro leonino Carlos Eduardo trombar com o zagueiro Lucão, da Patativa. A cena após o choque foi feia, e a dor fez com que o arqueiro se debatesse contra a grama – chegando até a chutar o rosto do companheiro Adryelson de modo involuntário. Assim como aconteceu um dia antes, os médicos dos dois lados prestaram atendimento. Após isso, Carlos foi conduzido a um hospital do Recife.

Um colar cervical foi colocado no goleiro por precaução, a fim de proteger a área que poderia estar lesionada. Uma fratura naquela região – que poderia até causar morte – foi descartada durante o atendimento médico, mas um trauma no rosto e uma fratura na parte inferior ao olho foram confirmadas.

SUSTO NO JOGO DO NÁUTICO (SÁBADO – 27/03)

Analisando o primeiro choque, na partida do Timbu, o fisioterapeuta esportivo Luiz Felipe Moraes explicou como aconteceu a concussão, consequência do choque entre a dupla do Vitória.

“Ambos foram cabecear a bola sem perceber a presença do colega de equipe. O zagueiro acabou atingindo o atacante na região temporal esquerda e como consequência, houve uma imediata perda da consciência”, disse de início.

Luiz também alegou que, segundo estabelece normas estrangeiras para o caso, eles não poderiam ter continuado atuando. “Segundo os protocolos internacionais, eles deveriam ter sido retirados de campo imediatamente, e em hipótese nenhuma retornar ao jogo sem avaliação neurológica adequada”, alertou.

O protocolo de outros esportes, para além do futebol, também traz mais atenção ao caso. “Todos os atletas que sofrem uma concussão devem passar por um período de acompanhamento e somente após não apresentarem nenhum sintoma causado pelo acidente, retornar às suas atividades. Visando a integridade física dos atletas esportes como no futebol americano tem como regra, após uma concussão, um afastamento por tempo mínimo de 15 dias, prazos ainda maiores de afastamento são comuns em outros esportes como no MMA”, exemplificou Luiz.

SUSTO NO JOGO DO SPORT (DOMINGO – 28/03)

De olho no segundo acontecimento, dessa vez no estádio da Ilha do Retiro, o fisioterapeuta comparou a situação e apontou que os riscos dessa vez foram diferentes, por não ter acontecido perda da consciência. Ainda assim, preocupantes pelo fato do atleta, na condição de goleiro, ter o costume de projetar a cabeça para trás nos confrontos. Mesmo que de modo natural.

“Houve uma fratura do osso zigomático (a maçã do rosto), e aparentemente sem perda da consciência. Por ter sido outra mecânica de trauma, os riscos também são diferentes. Havia um risco para a coluna cervical, já que a cabeça do goleiro é projetada para trás após receber um forte impacto frontal, como num “chicote” de pescoço”, disse o fisioterapeuta.

E mesmo com a hipótese de uma fratura na coluna cervical ter sido anulada após o atendimento, os riscos continuam com base na pancada com a cabeça. O retorno dele ao campo, inclusive, poderá acontecer com alguns acessórios, segundo Luiz Felipe.

“Em uma concussão leve podem haver sintomas como confusão mental, desequilíbrio, enjoo, ou até mesmo uma perda da consciência breve”, comentou. “Pode ser necessária a realização de uma cirurgia, e nesse caso será necessário um período maior de recuperação. Eventualmente ele pode até ter algum comprometimento da mímica facial e/ou mastigação”, complementou.

E sem descartar a necessidade de um procedimento cirúrgico, ele também mencionou o auxílio de uma máscara de carbono como aliada em sua fase de recuperação. Mas lembrou que o quadro clínico de Carlos Eduardo ainda será reavaliado e acompanhado pelos profissionais do Sport.

“No retorno às atividades pode ser utilizada uma máscara de proteção feita de algum material como a fibra de carbono, que pode colaborar tanto na segurança física quanto emocional do atleta. Vai depender de sua evolução nas avaliações diárias e da necessidade ou não de cirurgia”, encerrou.

CASO ANTIGO

Os choques em cabeças de jogadores não é nenhuma novidade no mundo esportivo. Um exemplo que marcou essa preocupante realidade foi o do goleiro Petr Cech, 15 anos atrás. Em menos de meio minuto de um jogo entre Chelsea e Reading, ele sofreu uma joelhada na cabeça e acabou fraturando o seu crânio.

Isso aconteceu em 2006, mas a partir do “susto” onde quase perdeu a vida, ele passou a entrar em campo acompanhado de um capacete de rugby. A repetição da cena ganhou visibilidade em todo o mundo, mas os números de choques continuam preocupando.

Texto: Esportes DP

Foto: Marlon Costa
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